"Ninguém conhece um 'Barca Velha' nos EUA"

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Os vinhos portugueses estão na moda?

No mercado internacional, não. A quota é muito pequena. Durante muitos anos insistimos no mercado da "saudade". Depois, perdemos uma década a seguir as indicações de um estudo que encomendámos ao senhor Michael Porter, que não percebe nada de vinho português.

O estudo Porter foi mau?

Foi, porque a estratégia implícita apontava para os mercados anglófonos como o futuro e, ao intensificarmos a nossa presença nos EUA e em Inglaterra, descurámos aquela que seria a presença natural do vinho português nos mercados lusófonos, como o Brasil e Angola.

Mas os opinion makers estão nos EUA e no Reino Unido...

E são importantes, mas também é importante vender o vinho. Intensificar a presença onde ele tem valor, como Macau, um mercado que duplicará o consumo per capita na próxima década. E o Brasil. Se cada brasileiro consumir uma garrafa, são 180 milhões. Não quer dizer que não se intensifique nos EUA, onde estão a crescer. Não se pode é descurar os outros. Felizmente, há um reposicionamento estratégico que vai privilegiar de novo os mercados naturais. Pela primeira vez, estive a dar formação, pela ViniPortugal, a jornalistas angolanos.

Os vinhos portugueses são presença assídua nas revistas internacionais, têm ganho várias medalhas. Isso não é positivo?

Chega-nos a pequena porção que as revistas dedicam a Portugal, mas os vinhos de outros países foram muito mais falados do que os nossos. O nosso problema nunca foram as medalhas. A questão é que tudo isso deve revelar-se na apetência do consumidor pelo vinho e isso não tem acontecido. Ao contrário de Angola. Ninguém conhece um Barca Velha nos EUA ou no Reino Unido.

O vinho português não é conhecido pela qualidade?

Não. Tem qualidade, não se reflecte é em preço mais alto.

Está a ser preparada a portaria da indicação de ano de colheita e casta nos rótulos dos vinhos de mesa. Que lhe parece?

Somos um país da pequena quinta, não vamos conseguir por muito mais tempo concorrer no mercado do preço barato. E ainda a China e a Índia não entraram nele. Será essa a luta que nos vai destacar no mercado internacional? Não creio que devamos tentar concorrer com o Novo Mundo. O esforço tem de estar em destacarmos que somos diferentes.

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